Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara.
O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.
Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: "já se foi".
Terá sumido? Evaporado? Não, certamente.
Apenas o perdemos de vista.
O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós.
Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas.
O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver.
Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante em que alguém diz: "já se foi", haverá outras vozes, mais além, a afirmar: "lá vem o veleiro"!!!
Assim é a morte.
Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: "já se foi".
Terá sumido? Evaporado? Não, certamente.
Apenas o perdemos de vista.
O ser que amamos continua o mesmo, suas conquistas persistem dentro do mistério divino.
Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita.
E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: "já se foi", no além, outro alguém dirá : "já está chegando". Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a vida.
Na vida, cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.
A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.
E o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.
Assim, um dia, todos nós partimos como seres imortais que somos, todos nós ao encontro Daquele que nos criou.
Rabino Henry Sobel, no funeral de Mário Covas
5 comentários:
A nossa civilização ainda não se acostumou com a "perda" da morte, inclusive eu. Mas esse texto tem tudo a ver,pois se viemos de Deus e estamos voltando para ele. ntão devia ser motivo de alegria. Alguns povos não choram a morte, fazem festas discretas com flores e frutas. parabéns.Beijos
Bravo texto!!
Impecável!!
Por mais que seja doloroso a dor da perda, o melhor sempre ficará para sempre.
Parabéns!!
Bjo grande da JU
Tô chorona hoje!
Mas esse texto lembrou meu Paizinho.Tenho certeza que Deus abriu os seus braços e disse lá no céu:Já chegou...
E eu que fiquei a ver suas velas sumindo de meu campo de visão só pude esperar que Deus o recebesse bem e o guardasse, até que chegue o meu dia.
Milhões de beijos
Costumava usar muitas vezes esta figura do barco que parte, no meu trabalho de apoio a pais que perderam filhos. É uma imagem belissima desta viagem que todos temos que fazer. Também há uma outra de alguém que ao escutar a voz que lhe dizia: "Chegou a hora, tens que ir", pediu: "Deixa-me ficar mais um pouco, aqui tenho toda a minha família, os meus filhos, os meus netos, eu não quero ir, não sei para onde vou, tenho medo..." "Lembras-te," continuou a voz, "quando estavas para nascer pediste o mesmo": "Eu estou aqui tão quentinho, tão aconchegadinho, na barriga da minha mãe, deixa-me ficar, eu não quero ir, tenho medo..." e eu disse-te o que te vou dizer agora: "Confia em mim. Vais de certeza para melhor."
Esta história é de Lauro Trevisan.
Um beijinho,
Maria Emília
estas palavras me lembram o quanto nós somos eternos, e a eternidade caminha conosco sempre.
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