terça-feira, 30 de setembro de 2008

Câncer...


Eles são sensíveis, sensatos, solícitos e vivem em busca do tempo perdido. É fácil notá-los, e encantar-se à primeira vista: abrirão portas e puxarão cadeiras se forem caranguejos-macho, ou se oferecerão para consertar aquele abajur quebrado, se forem caranguejos-fêmeas, enquanto lhe contam o quanto, mas quanto mesmo, foram felizes na infância. O canceriano é um idealizador do passado, e para ele nunca houve época mais feliz que a época do ginásio, ou aqueles meses em que ele passava as férias com todos os primos, no sítio do avô, ou aquele dia muito particular em que ganhou a primeira bicicleta. Pode até não ser verdade - mas o conceito de verdade, para um canceriano, é totalmente sentimental. Esta é a marca registrada deste signo de água, regido pela Lua: eles são movidos a sentimentos. Realidade, para eles, é o que eles sentem, e nenhuma análise fria, objetiva, e matemática dos fatos vai convencê-los do contrário.




Os achaques mais comuns do caranguejo são stress, gastrites de origem depressiva e enxaquecas tremendas toda vez que o mundo não o acolhe como deveria, e por isso ele exagera no uísque. Recomenda-se, além de uma certa moderação etilíca, um pouco de terapia junguiana. Desde que o terapeuta o receba com açúcar e afeto, e não com aquela sanha incontrolável de extraír-lhe todos os segredos. O canceriano abomina abelhudos, embora esteja sempre disposto a relatar passagens da sua infância. Um freudiano não é recomendável, pois, apesar de pronto a ouvir histórias antigas, vai tentar se meter entre elas e a mãe. Já um analista junguiano, mais soft e craque em símbolos e arquétipos, pode auxiliar o caranguejo a se acomodar melhor na sua concha, sem ter que se desfazer inteiramente dela. Aliás, se há algo que o canceriano não tolera, é desfazer-se das coisas - antes um caranguejo em paz com suas neuroses familiares que totalmente desprovido delas.

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